Pesquisa da Axa com 3.595 especialistas em gestão de riscos em 57 países, aponta a percepção em relação a exposições de sociedade e empresas; e revela uma realidade inquestionável: vivemos em uma era de riscos sistêmicos e interconectados que exigem uma transformação radical em nossa abordagem de gestão.
De conflitos crescentes à fragmentação geopolítica, o cenário de riscos globais parece muito diferente do que era há cinco anos. Algumas anotações:
– Mudanças climáticas figuram como o principal risco global em 2025, posição que ocupa há quatro anos. Por suas dinâmicas intrínsecas, essas não operam isoladamente – elas amplificam tensões geopolíticas, aceleram pressões demográficas e potencial para deslocar pessoas, diminuir a produção agrícola em diversas regiões do mundo, impactar produção de energia e sistemas de saúde são alguns de tantos outros desdobramentos.
– Eventos climáticos extremos: À medida que a natureza dos eventos, frequência e intensidade se aceleram, amplia-se o risco de danos à infraestrutura e à propriedade. Inclusive no Brasil!!
– Instabilidade geopolítica aparece em seguida, já que o número de mortes em conflitos globais atingiu seu nível mais alto em 25 anos em 2024.
– A demografia entrou para a lista em 2025, pela primeira vez. Além disso, especialistas na Itália, Japão e Alemanha a classificaram como risco relevante, visto que o envelhecimento da população impõe uma pressão crescente sobre as finanças públicas.
– Avanços em inteligência artificial estão apresentando novas oportunidades e riscos, abrangendo desde a segurança nacional até o mercado de trabalho.
Tecnicamente, há uma distinção fundamental entre categorias de risco e eventos de risco específicos que merece esclarecimento – categorias macro de risco refletem domínios de exposição onde eventos específicos podem se materializar.
Funcionam como um radar para identificar áreas de concentração de ameaças. Servem para orientar a identificação de múltiplos eventos de risco específicos, e priorização em níveis organizacional e sistêmico.
Um exemplo simples: na Categoria “Mudanças climáticas”; “Eventos específicos” podem incluir elevação do nível do mar afetando operações portuárias; secas prolongadas impactando cadeias de suprimento; redução de X% na produtividade agrícola de uma região, tempestades extremas danificando infraestrutura crítica.
A aplicabilidade prática surge a partir da decomposição desses vetores. Na prática, utilizamos essas categorias para desenvolver registros de riscos detalhados em Eventos de risco específicos (o que pode acontecer), com probabilidade, impacto, tolerância, #Vulnerabilidades (!!!!), Indicadores de monitoramento (sinais de alerta precoce) etc; e planos de ação específicos para as organizações.
O valor da pesquisa reside em alertar sociedade e organizações a refletirem sobre a importância da análise detalhada de eventos específicos que realmente importam para seus contextos operacionais.
A correlação e interdependência entre esses vetores criam um efeito cascata que pode rapidamente transformar vulnerabilidades locais em crises sistêmicas globais; e exigem uma transformação radical em nossa abordagem de gestão.
Para organizações e governos, a mensagem é clara: a gestão de riscos não pode mais ser compartimentalizada. É necessário implementar frameworks integrados que reconheçam essas interconexões, invistam em resiliência adaptativa e construam capacidades de resposta que sejam tão dinâmicas quanto os próprios riscos que enfrentamos.
O futuro pertence àqueles que conseguirem enxergar além dos silos tradicionais e abraçar uma visão holística da gestão de riscos empresariais.
O tempo para mudanças incrementais acabou – a era da transformação sistêmica começou.