Os projetos de soluções baseadas na natureza (SbN), como agroflorestas e infraestruturas verdes urbanas, ampliaram o debate sobre financiamento climático. Especialistas defendem que mecanismos integrados de gestão de riscos e securitização podem destravar recursos e atrair investidores.
Entidades do setor apontam que combinar metodologias e experiencia em gestão dos riscos e securitização com garantias de desempenho e contratos pode criar estrutura que aumente a confiança dos investidores e a ampliação do fluxo de capital.
“Em setores consolidados, como energia renovável, há segurança jurídica e previsibilidade, mas em soluções baseadas na natureza ou em outros negócios de biodiversidade ainda não se mapeou todos os riscos e o dinheiro fica reticente.”
Mecanismos de transferência de Riscos como ‘first loss’, em que há tranches de risco e um investidor, como um banco de desenvolvimento, assume a perda inicial em caso de prejuízo são apontados como um colchão de segurança para os demais investidores.
Na visão de especialistas, os desafios da securitização incluem estabelecer um inventário de exposições, análise de cenários de perdas e mecanismos de gestão de riscos para definir o valor do prêmio; e ainda quem paga por ele em projetos de soluções baseadas na natureza.
“Quando falamos da recuperação de ecossistemas, como seguro para manguezal ou para barreira de coral, é preciso identificar quem tem interesse. Se você pensa num grande hotel que vai sofrer com a ressaca da maré se a barreira de coral ou o manguezal estiverem devastados, essa organização tem interesse direto na manutenção do ecossistema.” Jéssica Bastos, (Susep).
A implementação de metodologias estruturadas de gestão de riscos, fundamentadas em frameworks consolidados, emerge como elemento para destravar o mercado de soluções baseadas na natureza no Brasil.
A adoção de abordagens sistemáticas que contemplem identificação abrangente de stakeholders, mapeamento detalhado de exposições através de inventários padronizados, análise quantitativa de cenários de perdas e modelagem de correlações e interdependências entre riscos ambientais, financeiros e operacionais, proporcionará a transparência e previsibilidade necessárias para atrair capital privado.
Essas metodologias, quando integradas a mecanismos de transferência de riscos estruturados – como tranches hierarquizadas, seguros paramétricos e garantias de desempenho -, criarão um arcabouço robusto de governança que reduzirá significativamente as incertezas dos investidores.
Em tempos de COP30, o tema está em pauta. Estamos prontos?
Obs: Soluções baseadas na natureza usam ecossistemas para resolver desafios socioeconômicos e ambientais, como eventos climáticos extremos e segurança hídrica, enquanto geram renda e conservam a biodiversidade.
Risk Veritas, Valor Econômico, 20 Out 2025