Usinas de Açúcar e Álcool e Outros Sistemas de Produção
Exposições Relacionadas à Cogeração de Energia
Categoria: Energia & Eletricidade
Introdução:
As usinas sucroalcooleiras e outros sistemas de produção com sistemas de cogeração de energia elétrica desempenham papel estratégico, não apenas na autossuficiência energética de suas operações, mas também no fornecimento de excedentes para o Sistema Interligado Nacional (SIN), especialmente em contratos firmados com concessionárias.
A cogeração, usualmente realizada a partir da queima de biomassa (bagaço da cana), depende de ativos críticos como caldeiras de alta pressão, turbinas a vapor, gerador e transformador elevador, e sistemas de controle.
Conclusão:
A integridade operacional dos sistemas de cogeração (caldeiras e turbinas) é vital para a sustentabilidade econômica e contratual da usina; vez que danos materiais a esses equipamentos têm impacto direto sobre a produção industrial da usina, o faturamento da energia contratada e os compromissos legais e regulatórios.
Os impactos decorrentes de falhas nesses ativos não se limitam a danos materiais diretos, mas se expandem para perdas de receita e elevados desembolsos para mitigação de passivos contratuais com a concessionária.
Adicionalmente, é importante observar que mudanças recentes no marco regulatório do setor elétrico brasileiro — como a abertura progressiva do mercado livre para consumidores de menor porte e maior flexibilidade na contratação de energia — ampliam o número de potenciais compradores e alteram significativamente o perfil de exposição contratual das usinas geradoras. Essa nova dinâmica exige atenção redobrada às estratégias de comercialização, à gestão de risco contratual e à responsabilidade em caso de inadimplemento por falhas na geração.
Para embasar decisões estratégicas, de investimento, gestão de riscos ou definição de coberturas securitárias, se recomendada a realização de um estudo técnico aprofundado, com modelagens customizadas, validação jurídica contratual e inspeção técnica especializada.
Recomendações:
a) Condições Contratuais vigentes com concessionária: As obrigações contratuais relativas à operação e manutenção da planta, incluindo análise detalhada das cláusulas sobre responsabilidades por falhas, negligência operacional e prejuízos decorrentes de interrupções ou danos materiais, e demais características operacionais, jurídicas e financeiras da unidade.
b) Estruturação de plano de contingência operacional e financeiro para garantir capacidade de resposta rápida à Concessionária e aos compromissos do ACL; conforme simulação de cenários críticos e análise de Perda Máxima Provável.
c) Contratação de apólice de seguro com cobertura de “Lucros Cessantes decorrentes de Danos Elétricos e Mecânicos” e “Despesas Extraordinárias com Compra de Energia“;
d) O seguro de garantia de performance é outro mecanismo de proteção financeira. Também conhecido como “Performance Bond”, tem como principal objetivo garantir o cumprimento de contratos de obras, serviços ou fornecimentos, oferecendo proteção financeira para o contratante em caso de inadimplemento do contratado. Este seguro assegura que as obrigações estabelecidas no contrato sejam cumpridas, seja em termos de prazos, qualidade do trabalho ou especificações técnicas.
Ressalvas
1) Estas são anotações preliminares e ilustrativas das exposições às perdas decorrentes de falhas na cogeração de energia (turbina, caldeira e outros equipamentos críticos), e tem como base em conceitos gerais de engenharia de riscos, parâmetros médios de mercado e premissas econômicas amplamente utilizadas no setor.
2) Recomenda-se a realização de um estudo técnico aprofundado, com análise de dados operacionais, avaliação de cláusulas contratuais e modelagem de riscos própria, para suporte à tomada de decisão e definição de planos de contingência e mecanismos adequados e suficientes para atenuação do impacto financeiros de eventos catastróficos – ex. termos, condições e limites das apólices de seguro.
3) Os exemplos de análise de cenários e estimativas de perda potencial aqui demonstradas não são exaustivos ou tão pouco substituem uma avaliação técnica específica e detalhada da planta industrial, que deverá considerar, dentre outros fatores, a configuração real do sistema de cogeração, cronogramas de manutenção, condições contratuais firmadas com concessionárias de energia, estrutura de seguros vigente, capacidade de mitigação e tempo efetivo de reposição de equipamentos; além das demais características operacionais e financeiras da planta.
Considerações Gerais:
1. Exposição a Danos Materiais Diretos – Turbina e Caldeira
Riscos Principais: Falhas mecânicas por fadiga, corrosão interna ou superaquecimento ativos críticos como caldeiras de alta pressão, turbinas a vapor; gerador e transformador elevador, e sistemas de controle. Explosões originados por falha de controle de pressão ou purga inadequada do combustível de partida; Acidentes operacionais ou falhas humanas durante startup/shutdown. Deficiência na manutenção preventiva e preditiva.
Consequências Imediatas: Parada total ou parcial da geração de energia; Riscos secundários para outros sistemas (geradores, transformadores, interconexão com rede); Custos diretos com reparos, substituição de peças críticas ou compra de novo equipamento.
2. Lucros Cessantes por Interrupção da Geração
Cenário de Perda: Perda da capacidade de cogeração interrompe o fornecimento de energia à Concessionária conforme contratos de venda de energia; Suspensão de receita oriunda da comercialização de energia no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) ou Ambiente de Contratação Livre (ACL); Impacto sobre receita líquida da unidade, especialmente em períodos de safra (março (abril) a novembro), quando a produção é intensiva.
Impacto Econômico: Perda diária de faturamento de energia (dependente do volume contratado e do valor do MWh no contrato); Penalidades contratuais e/ou multas regulatórias por não entrega; Risco de acionamento judicial por parte da compradora.
3. Desembolsos para Compra de Energia no Mercado Livre (ACL)
Obrigação de Garantia de Entrega: Em caso de falha na cogeração, a usina pode ser obrigada a adquirir energia de terceiros no ACL para honrar seu compromisso com o comprador-concessionária. A variação do preço de curto prazo (PLD) pode elevar o custo significativamente, sobretudo em períodos de alta demanda ou baixa oferta.
Consequência Financeira Direta: Necessidade de liquidez imediata para aquisição da energia (muitas vezes a preços superiores ao valor de venda contratado); Aumento de exposição ao risco de mercado, impactando o balanço financeiro e as margens da unidade;
Tomemos um cenário hipotético de paralisação de turbina ou caldeira:
Premissas de Geração anual: 76.000 MWh;
Média mensal de geração: 6.333 MWh;
Média diária (safra): aprox. 211 MWh/dia;
Receita média de venda: R$ 350/MWh; (contrato com concessionária ou mercado livre)
PLD médio para compra emergencial (ACL): R$ 600/MWh.
Energia contratada estimada (90% da geração): 68.400 MWh/ano → 187,4 MWh/dia.
Energia não contratada (autoconsumo ou excedente): 10%
Frequência de operação intensa: safra entre março e novembro (~270 dias)
PLD Médio: valor médio pago pela energia elétrica em operações de curto prazo.
Compra Emergencial (ACL): Refere-se à compra de energia em situações de emergência, como falta de oferta ou alta demanda, que pode ser ajustada com base na situação do sistema elétrico.
Item | 7 dias | 30 dias | 60 dias |
Custo de reparo/substituição parcial | R$ 1.200.000 | R$ 2.500.000 | R$ 4.500.000 |
Receita cessante (R$ 350 × 187,4 MWh/dia) | R$ 460.000 | R$ 1.960.000 | R$ 3.920.000 |
Compra de energia (R$ 600 × 187,4 MWh/dia) | R$ 787.000 | R$ 3.370.000 | R$ 6.740.000 |
Perda Potencial Total | R$ 2.447.000 | R$ 7.830.000 | R$ 15.160.000 |
As estimativas de perda potencial aqui demonstradas tem caráter ilustrativo, e não substituem uma avaliação técnica específica e detalhada da planta industrial.
Limites de Responsabilidades
A Risk Veritas limita sua responsabilidade no trabalho de análise de riscos, cuja finalidade é definir os possíveis riscos inerentes ao processo e/ou instalações, bem como, ajudar a definir medidas viáveis de redução desses riscos. Qualquer decisão tomada sobre a implementação dessas medidas e sua funcionalidade será unicamente da responsabilidade do contratante.
Em nenhuma circunstância, o atendimento pelo cliente de qualquer possível recomendação garantirá o cumprimento de suas obrigações diante contratantes ou perante a lei, nem tampouco garantirá que suas instalações estejam livres de perigos ou perdas.